terça-feira

Ebulições























Franz Marc – Tirol (1913-1914)
É no silêncio violento e atemporal que vivo. Sempre em esforço contínuo procuro manter-me concentrado, e diligencio o que penso, e na contração física, mantenho meu cárcere imóvel, resignado. Mas os pensamentos são tão recalcitrantes que se evadem dessa fragilíssima cela, em sucos múltiplos que persistem em fazer lembrar-me que a muito conheci a autonomia dos livres.
E dos atritos dos grilhões, chegam as ebulições psíquicas, fervilhando ideações fugídias, em meio as dores e angústias. E na mais submissa das condições, percebo tua presença, reordenando meu cárcere com teus olhos frios e inorgânicos.
Ah! Diviníssima... Foi contigo que escolhi viver?

sexta-feira

Um Estado Despido
























Pintura- Rob Refferan
Gostaria de poder chorar com a facilidade do céu. As lágrimas não chegam tão facilmente agora. Estão coladas no interior de minha alma. Tudo é um vácuo e tenho medo – sente o vazio? Acho que é meu próprio medo lá dentro. Deveria ser corajosa e combatê-lo, mas é uma guerra que existe por um tempo danado de longo. Estou cansada. As crianças vão crescendo e as lágrimas, nesse instante transbordam. Não ver o crescimento delas é como não ver a mudança das estações, as rosas que florescem na primavera e os flocos de neve caindo no inverno. Quantos outros anos terei que perder? Os anos não se deterão por mim ou por elas e por que deveriam? Continuarão a florescer e florescer e minha vida permanecerá imóvel como um lago silencioso.

(Angel Starkey)

segunda-feira

Bing Crosby – O Crooner da América

Harry Lillis Crosby (1903-1977), foi talvez o principal elo de transição entre o estilo "bel canto", operístico, que existia antes, e o estilo relaxado, moderno, de cantar, melhor exemplificado por seu seguidor Frank Sinatra. Sua gravação de "White Christmas", uma espécie de hino do Natal composta por Irving Berlin, foi o disco mais vendido do mundo durante mais de 50 anos, até ser suplantado por "Candle in the wind", uma homenagem de Elton John a Lady Diana.
Ele foi o primeiro cantor popular contratado por uma orquestra, em 1926 por Paul Whiteman, mesmo porque até então não havia um cantor definido e sim um instrumentista que fazia o vocal.
Entre 1927 e 1962, suas canções eram as mais tocadas nos EUA, com 368 gravações em seu nome e outras 28 como vocalista. Nos anos 30 e 40, um disco de Crosby em primeiro lugar só era desbancado por outro disco dele.



White Christmas - 1954
Crosby também fez sucesso no cinema. Em 30 anos de carreira, atuou em mais de 70 filmes, como "Alta Sociedade", ao lado de Grace Kelly, e "O Bom Pastor", com o qual ganhou o Oscar de melhor ator. Em 1960, a indústria fonográfica americana estabeleceu que Bing vendera 200 milhões de discos, em 1980, esse número dobrara. Bing surgiu na época que grandes compositores estavam também começando a buscar seu espaço como Cole Porter, Lorenz Hart e Ira Gershwin.

Bing Crosby é considerado por muitos o mais importante cantor no século XX.

quinta-feira

Ele, Stradivarius

Antonio Stradivari de Edgar Bundy, 1893
Qualquer superlativo caberá folgadamente na vida e obra de Antonio Stradivari (1644-1737), o luthier italiano que construiu os mais mitológicos, caros e cobiçados instrumentos de corda do mundo. Os Stradivarius, como ficaram conhecidos, foram fabricados há mais de 300 anos, e até hoje nenhuma tecnologia foi capaz de reproduzir sons com a mesma qualidade dos feitos pelo artífice de Cremona. De vez em quando lemos nos jornais a cifra astronômica alcançada por algum violino feito por este grande mestre, Já houve várias tentativas de reproduzi-los, mas, no final das contas, seus violinos, violoncelos e violas permanecem como referenciais absolutas. Alcançam valores cada vez mais altos em leilões e viajam o mundo com status de estrela semelhante ao dos virtuoses privilegiados o suficiente para empunhá-los.
Um excelente livro do autor Britânico Tony Faber intitulado "Stradivarius - Cinco Violinos, Um Violoncelo e Três Séculos de Perfeição" , investiga o enigma sobre Stradivari – quem era, seu segredo e por que não teve sucessores nem mesmo entre parentes. Qualquer amante de música, clássica ou popular, vai apreciar as histórias envolvendo a vida desse grande mestre que construiu violinos até o último de seus 93 anos de vida.
"Tenho um violino que nasceu em 1713. Já estava vivo muito antes de mim, e espero que continue vivendo muito tempo depois de mim. Não o considero como meu violino. Talvez eu é que seja o seu violinista; estou apenas passando pela sua vida." ( Ivry Gitlis)

quarta-feira

Para refrescar os olhos e a alma...

Bouguereau (1825-1905)
Na História das artes costuma enfatizar a importância dos pintores impressionistas e esquece-se de todos os outros artistas contemporâneos da época. Até hoje acontece muito esse fato, artistas de grande talento são colocadas à margem por não se enquadrar ao movimento artístico vigente.

Foi o caso de William-Adolphe Bouguereau, contemporâneo de Monet, Renoir e Degas, foi injustamente esquecido logo no início do século XX. Ser contemporâneo desses artistas, grandes inovadores no mundo das artes, não deve ter sido nada fácil, ao passo que o impressionismo causou uma ruptura com a pintura tradicional, presa a fórmulas acadêmicas desde o renascimento.

No seu tempo, porém, Bouguereau era referido como sendo um dos melhores pintores de França inclusivamente pelos seus colegas impressionistas. Fosse esta referência irônica ou não, o fato é que dá conta da projeção do artista no contexto da época.

Acredito que Bouguereau era a pessoa certa no momento errado.

terça-feira

Um Equilíbrio Desejado

Max Beckmann - Auto-Retrato com lenço vermelho,1917
Não é um dia qualquer. Não como todos esses lúgubres e nublados dias que na sofreguidão acostumou-se minha fragilíssima estrutura e, que de certa forma, já os considero análogos. Sinto-me num dificílimo esforço de equilibrar-me em terra firme. Pois eis que chega novamente o dia das minhas chuvas torrenciais, devastadoras, que regressam em fúria para desmoronar mais algumas das vigas que restam de minh’alma. Ah! Quão é aflitiva esta intermitência imprevisível e assustadoramente iminente. A angústia cortante de cada lâmina que respinga, faz-me lembrar meu espírito, que outrora de um ferro firme, agora consome-se num enferrujamento contínuo.
Penso num esforço sobre-humano, que jamais por minhas mãos entregar-me-ei ao fio da espada, mas anseio mais que tudo equilibrar-me. Sim! Equilibrar-me, agora não mais em terra firme, mas acima das nuvens, muito além, onde o sol se impõe ao furor de minhas chuvas.

quinta-feira

Fiques um pouco mais...

Nguyen Dinh Dang - Ascension
DEZEMBRO
Sempre que chegas!
Torna-me num embaraço de sentimentos
Sempre que chegas!
Torna-me num comboio de reflexões
Sempre que chegas!
Torna-me num algo mais que humano
Sempre que chegas!
Torna-me num estouro de emoções

Sempre que chegas!
Torna-me num despimento de mágoas
Sempre que chegas!
Torna-me num plangente de compunção
Sempre que chegas!
Torna-me num transbordar de lágrimas
Sempre que chegas!
Torna-me num súplice de compaixão

Sempre que chegas!
Torna-me num ardente de esperança
Sempre que chegas!
Torna-me num anseio de paz
Sempre que chegas!
Torna-me num despertar de saudade
Sempre que vieres dezembro!
Que sempre fiques um pouco mais.
(Carlos Barros)

quarta-feira

Dama com Arminho - Leonardo da Vinci - 1485-1490



No ano de 1485, Leonardo da Vinci inicia essa sua grande obra-prima: é o retrato de Cecília Gallerani, a Dama com Arminho, encomendado por Ludovico Sforza. A jovem, com sua cabeça pintada com a mesma mestria que a cabeça do belo anjo Uriel da pintura Madona das Rochas, com o olhar fixado para algo fora da pintura, fugindo do olhar do espectador, possui um rosto tranqüilo, insinuando o início de um sorriso sereno.
O arminho repete-lhe o movimento da cabeça, cuja pata curvada elegantemente correspondente ao movimento, criando uma sintonia entre a modelo e ele.
O Arminho representa o sobrenome da jovem em grego galée, mas também é o símbolo de seu amante Ludovico Sforza. Cecília abraça carinhosamente o seu amor junto ao colo.
"Quando ouvimos os sinos, ouvimos aquilo que já trazemos em nós mesmos como modelo. Sou da opinião que não se deverá desprezar aquele que olhar atentamente para as manchas da parede, para os carvões sobre a grelha, para as nuvens, ou para a correnteza da água, descobrindo, assim, coisas maravilhosas. O gênio do pintor há-de se apossar de todas essas coisas para criar composições diversas: luta de homens e de animais, paisagens, monstros, demônios e outras coisas fantásticas. Tudo, enfim, servirá para engrandecer o artista." (Leonardo da Vinci)

segunda-feira

As lágrimas de Aipré











Foto - Midore Yaismin
Fonte Tambiá - Parque Arruda Câmara - João Pessoa - Paraíba - Brasil
A Lenda da Fonte
Aipré, uma virgem índia Potiguara, teria se apaixonado por Tambiá, um valente guerreiro da Tribo inimiga Cariri. O amor entre os dois surgiu durante o tempo em que Tambiá foi prisioneiro dos Potiguaras. Ferido em batalha, Tambiá foi aprisionado e recebeu as honras dos vencedores. Conforme o costume indígena lhe concederam a filha do Cacique da Tribo Potiguara, Aipré, como “esposa de morte” e após o casamento Tambiá foi morto. Aipré, desconsolada ocultou-se no seio da floresta e chorou por seu amado durante cinquenta luas. Tantas e sofridas lágrimas deram origem a uma nascente de águas claras e límpidas, a Bica, que recebeu o nome de Fonte Tambiá.
AS LÁGRIMAS DE AIPRÉ
Imagino-te Aipré
Oh! Virgem índia potiguara
Estendida à erva rala
A verter lágrimas por Tambiá

Te esquecera em matas ocultas
Em cinquenta luas de angústias
Por teu amor cariri

Tantas outras luas passaram
Das tuas lágrimas que aqui ficaram
Formou-se uma fonte de ti
Carlos Barros