sábado

Nossa Criança


Imagem: Donald Zolan

Não te acordes! Não te assustes!
Sou eu, caminhando em teu sono,
bem devagarinho.

Lembras de mim?
Sou eu!
Que sempre vivo em ti!

E quando acordares
Se florescer a saudade

Abraça a vida, sorrindo pra mim!
(Carlos Barros)

terça-feira

F_O_M_E


Imagem: Zdzislaw Beksinski

O mundo que aparece ante vós
Que aclama meu nome em metáforas
Esse jamais me sentiu, não me conhece
Me usa, em tropos semânticos de palavras.

E tu homem, a quem me expresso
Da forma precípua e primeira que me criastes
Não me confundas com os desejos da tua espécie
Eu sou a mais suprema necessidade.

Fome de saber, fome de alcançar, FOME?
Desejos figurados a que emprestas meu nome!
Não condiz usar-me em formas de vontade
Eu sou a mais essencial necessidade.

E vós poetas! Livres escultores de palavras
Que nas analogias, semânticas e metáforas
Avivam em versos protestos de sobrevivência
Para vós, sou algo mais que necessidade
Sou o grito aflito da urgência.

(Carlos Barros)

quarta-feira

Solitude



Tentas viver o que nos faz mal
Resignando-se ao despontar do dia
Na clausura de uma esfera prisional
Que encarcera-nos em silentes agonias!

Quem te fala? Teu espírito!
Inquieto, exausto, aflito!
Que na ânsia de liberdade implora

Liberta-nos! Liberta-nos!
Dessa voraz solidão que nos devora.

(Carlos Barros)

Benevolência



Novamente a réstia sob o diminuto espaço
Que no chão transpassa do separar da porta
Na minguada fresta que no amanhecer reporta-se
E me remete ao chão quando à luz aponta.

Mais um dia a convidar-me à vida
Ergo-me aos punhos e ajoelhado fico
Branda luz que num lentear recolhe-se
Incita-me ânimo a acompanhar-lhe afora.

Agarro-me ao trinco a ruminar temores
De coisas mais vivas que vagueiam fora
Obstinada luz que da fresta some
Benevolente volta nessa mesma hora.
(Carlos Barros)