sábado

O Oposto da Vitalidade



Já se davam os primeiros sinais no pequeno Gregory. Vez por outra, via-se nele um ar melancólico, onde refletia-se de forma latente, um obliterado e quase indisfarçável estado de espírito. Uma mudança no seu modo de interagir que agora, fazia-se aos poucos conhecer-se. Estava envolto por algo nebuloso e atormentador, que ensaiava em sua mente o prenunciar de uma permanência nociva.

Sua percepção cada dia mais obscurecida do ambiente em que crescera, tornava-se mais evidente. Dava-se início a uma nova condição que até então jamais imaginara sentir, e que aos poucos, se apoderava de seus pensamentos, drenando sua energia, tal qual um parasita que se faz crescer à custa da vitalidade alheia.

Um estranho incógnito julgava-se agora, obrigado a sofrer uma ação de profundo desconforto, em todas as vertentes que direcionavam sua vida. Indiferente às alegrias ou desgostos, sentia-se cada vez mais desconexo daqueles à sua volta. Via-se arrastado para um mar de angústias e fobias, desproporcionais para alguém que mal completara oito anos.

Gregory era levado cada vez mais à um insólito isolamento, que de certa forma, parecia atenuar-lhe um sofrimento incompreensível, no qual dava-lhe um certo ar “incólume” da sua integridade biológica.

Aquilo que para ele era inominável, e que o sorvia com voracidade, retribuía-lhe com um novo e indelével modo de analisar o mundo, através de sensações angustiantes e pensamentos perturbadores.

Não raras às vezes, se achava sentado sob a sombra de uma retorcida oliveira, pela qual sentia uma profunda empatia, e que teimava em crescer no canto mais estreito da aresta de um largo muro que, por efeito, já se fendia, anunciando em suas rachaduras, o enorme esforço que dela se exigia para se sobressair dos penetrantes alicerces, e continuar a elevar seus ramos e fixar suas raízes, para que finalmente, pudesse cumprir o papel que lhe cabia na natureza. Mas, cada nova ruptura, predizia sua iminente e inevitável derrubada.

Gregory inquietamente, trazia para si aquela condição, prevendo o malogro e a evidente condenação daquela árvore. Sabia que ambos estavam a viver em condições adversas, tão distantes da concórdia que harmoniza e transcende a matéria. Lastimava-se profundamente ao ver a que duras penas, aqueles raquíticos galhos se esforçavam para dirigirem-se aos céus.

Quisera fosse esse o motivo de sua desventura, chegara a cogitar consigo, mas percebia que estava envolto por algo singular, análogo às suas digitais, direcionada apenas a si. Era seu próprio muro que o ameaçava, sem que ninguém até então percebesse.

Certa vez, sua mãe recostou-se na parede do terraço, e lá ficou a fita-lo. Lá estava Gregory, sentado num pequeno banco do jardim, arqueado, rabiscando a pele escura da terra, como alguém que adentra ao mar, e dedilha sem aspiração de registro, o espelho de suas águas, não mais que fazendo-as serpentearem.

Percebendo o estado solitário que Gregory encontrava-se naquele instante, foi em sua direção, sentou a seu lado, e por um breve momento ficaram ambos em silêncio. Com um olhar terno, mas de certa forma irrequieta, decidiu-se então de pronto perguntar, qual seria a razão de tamanha tristeza. De súbito, implodira em Gregory uma angústia exasperadora, deixando sua respiração ofegante, e seu coração a galope.

Debruçou-se sobre os joelhos, e com os braços, comprimia-os fortemente, numa mista tentativa de fuga e, de forma paralela, encurtar tais sensações que o impeliam de manter-se em condições de corresponder a preocupação que sua mãe agora o conferia.

Passado alguns minutos com a mão materna sobre a cabeça, se recompôs a tropeço, e tornou a dirigir seus olhos para ela, agora já marejados por intermitentes lágrimas. Continuva a chorar e no entanto, nem uma palavra lhe pudera vir à boca.

Voltou-se para a árvore ainda a soluçar, enxugou tremulamente suas lágrimas, fixou a vista ao rosto de sua mãe, e com um olhar de quem anseia a redenção de uma longa e dolorosa vida, encerrou o prelúdio daquele diálogo perguntando-a:

-Mãe, ainda vou crescer e ser feliz novamente?

Um comentário:

Leila Negrellos disse...

Nossa.
Nem sei como cheguei nesse blog,
talvez em razão das fotos...
Mas comecei a ler e fui sendo atraída por todos os posts...
Me senti "pertencendo"...
Apesar de ter sido estranhamente "invadida", admito que gostei.