sexta-feira
Des(encontro)
Imagem: Costa Dvorezky
[...]
E a sonhar, bem distante me atento
A correr ofegante ao teu encontro
Já tão exausto, quedei-me ao vento
Inda longe, acordei-me em pranto.
(Carlos Barros)
domingo
Repouso da Poesia
Enquanto adentro em teu repouso brandamente, me embeveço lentamente, esboçando um soneto. Sorvendo centelhas de palavras em rodopios ao vento, em teu silêncio, contemplo, o germinar de um primeiro quarteto.
Sentindo os perfumes que exalam em tuas letras, num voejar de borboletas, bailando em silente concerto, singelas palavras vão pousando, em estrofes se amando, concebendo um segundo quarteto.
Em teu repouso, flores tantas vou colhendo... Em cada uma, o desabrochar de um sentimento, e recolho na efusão lírica do momento, dois íntimos e segredosos tercetos.
E eis que te percebo sorrindo, e reverbero te ouvindo, em dois quartetos e tercetos.
Poesia, tu és como o amor que jamais dorme, descansa!
Do teu leve repouso
Levarei cuidadoso
Teu confidente soneto.
(Carlos Barros)
sábado
Nossa Criança
Imagem: Donald Zolan
Não te acordes! Não te assustes!
Sou eu, caminhando em teu sono,
bem devagarinho.
Lembras de mim?
Sou eu!
Que sempre vivo em ti!
E quando acordares
Se florescer a saudade
Abraça a vida, sorrindo pra mim!
(Carlos Barros)
terça-feira
F_O_M_E
Imagem: Zdzislaw Beksinski
O mundo que aparece ante vós
Que aclama meu nome em metáforas
Esse jamais me sentiu, não me conhece
Me usa, em tropos semânticos de palavras.
E tu homem, a quem me expresso
Da forma precípua e primeira que me criastes
Não me confundas com os desejos da tua espécie
Eu sou a mais suprema necessidade.
Fome de saber, fome de alcançar, FOME?
Desejos figurados a que emprestas meu nome!
Não condiz usar-me em formas de vontade
Eu sou a mais essencial necessidade.
E vós poetas! Livres escultores de palavras
Que nas analogias, semânticas e metáforas
Avivam em versos protestos de sobrevivência
Para vós, sou algo mais que necessidade
Sou o grito aflito da urgência.
(Carlos Barros)
quarta-feira
Solitude
Tentas viver o que nos faz mal
Resignando-se ao despontar do dia
Na clausura de uma esfera prisional
Que encarcera-nos em silentes agonias!
Quem te fala? Teu espírito!
Inquieto, exausto, aflito!
Que na ânsia de liberdade implora
Liberta-nos! Liberta-nos!
Dessa voraz solidão que nos devora.
(Carlos Barros)
Benevolência
Novamente a réstia sob o diminuto espaço
Que no chão transpassa do separar da porta
Na minguada fresta que no amanhecer reporta-se
E me remete ao chão quando à luz aponta.
Mais um dia a convidar-me à vida
Ergo-me aos punhos e ajoelhado fico
Branda luz que num lentear recolhe-se
Incita-me ânimo a acompanhar-lhe afora.
Agarro-me ao trinco a ruminar temores
De coisas mais vivas que vagueiam fora
Obstinada luz que da fresta some
Benevolente volta nessa mesma hora.
(Carlos Barros)
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quinta-feira
Da Saudade...
Imagem: Alan Kirk
Da afligente saudade que vergasta
De um tempo ido que te amou
Evocas sem manto que te afaga
Um amado tempo que passou.
Vês a branda luz que já te aclara
Essa suave senhora do tempo
Reluzente, esparge em tua alma
Sementes de paz ao teu momento.
Busca em teu íntimo um relicário
Em que guardes os instantes de doçura
E da afligente saudade que fustiga
Brotará doces lembranças de ternura.
De um tempo ido que te amou
Evocas sem manto que te afaga
Um amado tempo que passou.
Vês a branda luz que já te aclara
Essa suave senhora do tempo
Reluzente, esparge em tua alma
Sementes de paz ao teu momento.
Busca em teu íntimo um relicário
Em que guardes os instantes de doçura
E da afligente saudade que fustiga
Brotará doces lembranças de ternura.
(Carlos Barros)
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domingo
Sonho...
Imagem: Carlos Djalma
Sou a mais sublime das essências
As ardências dos anseios mais humanos
As escritas dos papiros mais antigos
Os espaços explorados mais estranhos.
Sou o êxtase dos versos dos poetas
As mensagens divinas dos seus anjos
O recôndito das paixões mais segregantes
Das sereias, o mistério dos seus cantos.
Chamam-me Sonho.
As ardências dos anseios mais humanos
As escritas dos papiros mais antigos
Os espaços explorados mais estranhos.
Sou o êxtase dos versos dos poetas
As mensagens divinas dos seus anjos
O recôndito das paixões mais segregantes
Das sereias, o mistério dos seus cantos.
Chamam-me Sonho.
(Carlos Barros)
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quinta-feira
Efervescências
Sou Eu! Que no teu espelho vivo.
Observa-me! Não vês?
Sou Eu! Desdobrado, múltiplo e infinito
E Tu represas
As correntezas do Espírito?!
Observa-me! Aqui, teu espelho,
Sou Eu! Somos nós! Não vês!
Teu reflexo, minha imagem
Tudo é fluido e refluxo!
Sou Eu! Somos nós! Não vês!
Teu reflexo, minha imagem
Tudo é fluido e refluxo!
Nada escapa. Qual o limite entre nós?
No relance, teu olhar! Não vês?
Espelhos são abismos
De tão fundo que são
E tu? Reprimido, moderado, contido!
No relance, teu olhar! Não vês?
Espelhos são abismos
De tão fundo que são
E tu? Reprimido, moderado, contido!
Espelhos são mágicos
Não vês! São portais, labirintos!
Nada escapa, aflora.
Ao ver-me, verás!
As inquietudes lúbricas, revolução.
Não vês! São portais, labirintos!
Nada escapa, aflora.
Ao ver-me, verás!
As inquietudes lúbricas, revolução.
Não verás espelho vazio
Nada escapa. Não vês!
E o vendo, já estás lá dentro.
E tudo em ti, sou eu.
Liberta-nos!
Nada escapa. Não vês!
E o vendo, já estás lá dentro.
E tudo em ti, sou eu.
Liberta-nos!
Sentirás,
Texturas, sabores, música, poesia
Nascentes de cores infinitas
A mistura dos sons
Liberta-nos! Somos um!
Somos nós!
Texturas, sabores, música, poesia
Nascentes de cores infinitas
A mistura dos sons
Liberta-nos! Somos um!
Somos nós!
(Carlos Barros)
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terça-feira
T. r. A. m. A.
____________O chão é cama para o amor urgente,
amor que não espera ir para a cama.
______________Sobre tapete ou duro piso, a gente
compõe de corpo e corpo a húmida trama.
E para repousar do amor, vamos à cama.
O Chão é Cama - Carlos Drummond de Andrade
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domingo
Delírios
O teu corpo dança
A valsa envolvente
Em êxtase, delírios...
Dos que amam perdidamente.
Abrem-se os braços
Flutuas, fragmenta-se
Lança-te aos sonhos
Transmuta-se suavemente.
E no silêncio a valsa
O som do corpo sublimado
Tão leve paira
Dissipa-se inebriado.
A Valsa que danças
Levou-te ao infinito
Fez-te ouvir (in)ternamente:Voemos - és espírito!(Carlos Barros)
A valsa envolvente
Em êxtase, delírios...
Dos que amam perdidamente.
Abrem-se os braços
Flutuas, fragmenta-se
Lança-te aos sonhos
Transmuta-se suavemente.
E no silêncio a valsa
O som do corpo sublimado
Tão leve paira
Dissipa-se inebriado.
A Valsa que danças
Levou-te ao infinito
Fez-te ouvir (in)ternamente:Voemos - és espírito!(Carlos Barros)
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sexta-feira
Quietude
Quisera ficar a teu lado
No grande êxtase pacífico
do nosso silêncio.
Continuar indefinidamente
o diálogo mudo dos nossos olhos.
Quisera
diluir-me em ti como um aroma no vento
como dois rios que fundem suas águas
no abraço do mesmo leitoe correm para o mesmo destino...
Somos duas árvores solitárias
que entrelaçam suas ramas:
à mesma brisa estremecem
florescem
envelheceme morrem...
Nirvana - Menotti del Picchia
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Menotti del Picchia
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